ATA DA DÉCIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 06-04-2000.

 


Aos seis dias do mês de abril do ano dois mil reuniu-se, na sede da Associação Médica do Rio Grande do Sul - AMRIGS, a Câmara Municipal de Porto Alegre, nos termos do artigo 7º, § 1º, do Regimento. Às dezenove horas e trinta e cinco minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 40/99 (Processo nº 1386/99), de autoria do Vereador Isaac Ainhorn. Compuseram a Mesa: o Vereador Lauro Hagemann, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, na presidência dos trabalhos; o Senhor Hilberto Correa de Almeida, Presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul - AMRIGS; o Senhor Telmo Kruse, representante do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; o Senhor Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva, Homenageado; o Vereador Isaac Ainhorn, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn, em nome das Bancadas do PDT, PTB, PMDB, PSB e PPS, destacou a importância da concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva, historiando dados relativos à vida pessoal e profissional do Homenageado e ressaltando a qualidade do trabalho desenvolvido por Sua Senhoria no ramo da Medicina. A Vereadora Lenora Ulrich, em nome da Bancada do PT, salientou a justeza da homenagem hoje prestada ao Senhor Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva, comentando a atuação do Homenageado no período em que exerceu o cargo de Presidente da Associação Médica do Rio Grande do Sul, notadamente no que se refere à adoção de medidas de valorização do trabalho dos médicos no Estado. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou o recebimento de mensagem alusiva à presente solenidade, enviada pelo Senhor Ricardo Oronoz Guterres, da Associação dos Funcionários Públicos do Rio Grande do Sul. A seguir, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador João Carlos Nedel, em nome das Bancadas do PPB e PFL, saudou o Senhor Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva, tecendo considerações sobre a qualidade do trabalho de Sua Senhoria como médico anestesista e sobre a luta do Homenageado pela implementação de medidas que garantam a prestação gratuita de serviços médicos por parte do Sistema Único de Saúde - SUS. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondência alusiva à presente homenagem, enviada pelo Deputado Estadual Adilson Troca. Após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, declarou que a concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva é a síntese da admiração e do respeito da Cidade à dedicação sempre demonstrada pelo Homenageado na realização das atividades inerentes à sua profissão. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Hilberto Correa de Almeida, que saudou o Senhor Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva pelo recebimento do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre. Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou o Vereador Isaac Ainhorn para proceder à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva e, após, concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às vinte e uma horas, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Lauro Hagemann e secretariados pelo Vereador Isaac Ainhorn, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Estão abertos os trabalhos da 11ª  Sessão Solene. Estamos reunidos, excepcionalmente, no anfiteatro da Associação Médica do Rio Grande do Sul - AMRIGS, para dar cumprimento à Resolução tomada pelo Plenário de conceder o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre a o Dr. Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva, nos termos do  PLL nº 040/99, de autoria do Ver. Isaac Ainhorn.

Convidamos para compor a Mesa o Dr. Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva, homenageado; o Dr. Hilberto Correa de Almeida, Presidente da AMRIGS; o Dr. Telmo Kruse, representante do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre.

Registramos, com prazer, a presença de convidados, de amigos da classe médica, de familiares, e de pessoas que, independentemente das circunstâncias, vieram para assistir à outorga desse título honorífico ao Dr. Martinho.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

É, para a Câmara Municipal da Cidade de Porto Alegre, uma honra excepcional esta Sessão aqui na AMRIGS e, também, uma honra muito grande em ter o Dr. Martinho como concidadão nosso de direito e de fato. De fato, ele já o é; agora, será de direito.

O Ver. Isaac Ainhorn, proponente dessa homenagem, está com a palavra e falará em nome da sua Bancada, o PDT, e das Bancadas do PTB, do PMDB, do PSB e do PPS.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Estendo essa homenagem, também, e as nossas saudações à esposa do Dr. Martinho, bem como aos seus filhos e netos, embora essa jovialidade tão intensa do nosso homenageado.

Quando o Legislativo Municipal, e, mais especificamente eu, tomei a iniciativa de apresentar um Projeto de Lei na Câmara Municipal de Porto Alegre outorgando o título de Cidadão de Porto Alegre e colocando essa proposta ao exame dos meus colegas Vereadores, busquei, de um lado, na condição de gaúcho, promover o reconhecimento à figura de ilustre médico do nosso Estado, que, por circunstâncias existenciais da sua família, aportou em nossa Cidade no tumultuado ano de 1961. Lá se vão, Dr. Martinho, quase quarenta anos.

Na época, V. S.ª era um jovem estudante. Lembrando e invocando o filósofo espanhol Ortega y Gasset : "O homem é ele e suas circunstâncias", as circunstâncias o trouxeram a Porto Alegre, onde, jovem, deu continuidade aos seus estudos, ao desenvolvimento de seu trabalho futuro e, aqui, fez o seu curso secundário, ingressou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, casou, teve filhos e construiu um admirável currículo que honra qualquer um dos seus semelhantes.

De um lado, identificamos a singularidade do Dr. Martinho, que fez a opção por Porto Alegre, por construir a sua existência nesta Cidade. Nós sabemos o profundo amor que o Dr. Martinho tem por esta Cidade que ele escolheu. As circunstâncias o trouxeram para cá, e ele acabou se enraizando profundamente nesta Cidade.

De outro lado, a nossa proposta também quis atender a um profundo reconhecimento a essa área, pela qual temos o maior respeito, admiração e orgulho, que é a Medicina rio-grandense, a Medicina gaúcha.

Nós, gaúchos, a exemplo de tantos outros motivos de orgulho temos, inegavelmente, o orgulho de nossa Medicina e de nossos médicos. E, tem o Rio Grande do Sul uma posição destacada como um dos maiores centros médicos, senão o maior, de nosso País e um reconhecimento internacional da Medicina aqui praticada e aqui desenvolvida. Não devemos nada, em termos de eficiência profissional dos nossos médicos, a qualquer outro país. Talvez não tenhamos aqueles recursos e aquela tecnologia que, muitas vezes, nos chegam com a velocidade das informações já bem maior do que acontecia no passado. Essa característica é fundamental para compreendermos, Dr. Martinho, por que essa homenagem se realiza na sua Casa, na Casa do médico rio-grandense, na Associação Médica do Rio Grande do Sul. E é por isso que o Legislativo Municipal, a mais antiga instituição política do nosso Estado, com mais de 220 anos, desloca-se de sua sede para comparecer à sede desta Instituição, neste extraordinário e moderno anfiteatro, que se constitui em mais um espaço cultural e médico desta Cidade, com o qual Vossa Senhoria tem uma identificação tão grande.

E eu acabei de ler na placa na entrada que este anfiteatro se deve à coragem e ao trabalho desse que recebe na noite de hoje o título de Cidadão de Porto Alegre.

Aqui está o seu espírito empreendedor, consubstanciado nessa obra feita em pouco mais de cinco meses, e é o reconhecimento da Cidade.

Eu diria mais: não é na figura do representante político da categoria médica, que, por si só, já tornaria a homenagem com absoluto sentido, mas é, também, a figura do médico que eu tive oportunidade de conhecer no decorrer dos anos. E eu acho que ele expressa o perfil do nosso médico: o médico fiel, leal aos princípios deontológicos estabelecidos lá, nos princípios da Medicina grega e no juramento que os médicos fizeram, o juramento de Hipócrates. E eu sou testemunha, sim, numa época extremamente difícil, quando os serviços de assistência médica à grande população do nosso Estado e da nossa Cidade são críticos, e ninguém mais do que o médico, do profissional da Medicina, que se defronta no seu cotidiano, no seu dia-a-dia, na angústia de ter os corredores dos hospitais, nas ante-salas dos seus consultórios do Sistema Único de Saúde, lotados de pessoas que comparecem suplicando o atendimento, e a restrição do atendimento a um limitado número de fichas médicas que ali dispõe.

Mas foi essa crença, que temos num dos elementos fundamentais da assistência médica e na crença no nosso profissional e do profundo sentido humanitário de que é dotado o nosso médico e que nós identificamos na figura do Dr. Martinho, é que nos levou a lhe conceder o reconhecimento do papel comunitário e do médico, na sua figura,  Dr. Martinho Álvares da Silva.

Por trás dessa figura, muitas vezes agitada, que conversa com muita facilidade e que discorre sobre os mais diversos assuntos, existe um ser humano de um enorme coração, de um grande sentimento que, jamais, em momento algum, deixa de prestar o seu atendimento médico àqueles que necessitam. E eu sou testemunha de inúmeros momentos em que o Dr. Martinho atendeu a situações, muitas vezes dramáticas, de pessoas carentes e que precisavam do atendimento da sua área de especialização. 

E é por tudo isso, senhoras e senhores, que entendi por bem submeter aos meus colegas Vereadores a concessão deste título ao Dr. Martinho Alexandre Reis Álvarez da Silva, que veio na circunstância da sua família; seu pai, por força das funções públicas que exercia, acabou em Porto Alegre, radicando-se, aqui, nos idos de 1961, numa circunstância excepcional: teve que aguardar a sua vinda a Porto Alegre em São Paulo até que se dissipasse o complexo quadro político que vivíamos naquele momento, nos idos de 1961, com o famoso movimento, que já pertence à história rio-grandense e à história brasileira, que foi o episódio da Legalidade. Passada a Legalidade, naquele momento, felizmente vencidas as dificuldades institucionais com o respeito às normas constitucionais, o Dr. Martinho aqui chegou e permaneceu durante todos os anos com esse extraordinário currículo que enche de orgulho a sua esposa, os seus filhos, os seus parentes, as suas cunhadas e os seus colegas da Medicina.

Continue, Dr. Martinho, nessa trajetória. Como bem disse o Presidente desta Sessão, Ver. Lauro Hagemann, este título o senhor já o detinha de fato, e, hoje, formalmente, em Sessão Solene, o está recebendo de direito. E é por isso que nós estamos aqui reunidos: para prestar esta homenagem ao seu trabalho, à sua dedicação, à sua determinação e, sobretudo, em reconhecimento ao seu profundo sentimento de humanidade em relação aos que precisam dos seus trabalhos naqueles momentos duros e difíceis.

E esta homenagem, também, estende-se a toda sua categoria, ao reconhecimento da Cidade de Porto Alegre, ao médico, à sua função, ao seu exercício, ao seu múnus humanitário que exerce no cotidiano de seu trabalho. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): A ilustre Ver.a Leonora Ulrich está com a palavra e falará em nome da Bancada do PT.

 

A SRA. LEONORA ULRICH: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Venho, aqui, trazer, em nome do Partido dos Trabalhadores, a justa homenagem e o nosso pleno apoio e reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelo Dr. Martinho  Alexandre Reis Álvares da Silva, que, objeto de um Projeto de Lei, hoje está sendo homologado por este ato legislativo da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

Nós não vamos falar das coisas que poderíamos conversar, enquanto Vereadores, enquanto uma Bancada que luta e que tem, na Saúde, uma das suas principais preocupações, mas vamos falar, aqui, de afeto, em função da delegação que me foi dada gentilmente por toda a nossa Bancada de treze Vereadores, pelos laços de amizade e de parentesco com o Dr. Martinho.

Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva nasceu em Patos de Minas em 1944 - estou te entregando, Martinho - e veio muito menino para o Rio Grande do Sul, onde lançou suas raízes, fundou sua família, teve seus filhos, fez a sua vida e sua trajetória profissional. Mas, mais do que se dedicar à sua trajetória profissional, o Martinho foi generoso na sua relação com a comunidade.

Primeiro, com a comunidade médica, participando desde o início da fundação da UNIMED/Rio Grande do Sul, que foi um ato de bastante coragem no momento em que a UNIMED, hoje, nós reconhecemos, representa em termos de uma cooperativa médica, tanto para os seus usuários como para os médicos em si. Mas foi a coragem pioneira de alguns companheiros médicos, encabeçada por Martinho, que empreenderam essa tarefa.

Foi Vice-Presidente, por duas gestões, da Associação Médica do Rio Grande do Sul - AMRIGS; foi Diretor-Presidente da AMRIGS por três gestões. Poderíamos, também, falar das grandes obras, obras materiais que se corporificaram, por exemplo, neste auditório e naquele outro prédio onde as associações médicas, hoje, podem-se reunir com toda a tranqüilidade, com toda a dignidade sempre zelando pelo desenvolvimento técnico e pelo aprimoramento científico da Medicina no Rio Grande do Sul.

Podemos falar de uma infinidade de realizações, de congressos, de atividades e, também, da interiorização do trabalho da AMRIGS, que foi continuada e encabeçada pelo Dr. Martinho e que é, hoje, uma das grandes atividades, pela fala do Presidente atual em sua posse, e uma das principais aquisições desta Casa.

Muitas outras coisas poderíamos falar: sobre a inserção do Dr. Martinho na discussão das políticas públicas para a área da saúde; da coragem que os médicos sempre têm tido de afirmar a prevalência do interesse da população sobre quaisquer outros interesses políticos na condução da coisa pública; no estabelecimento das políticas de saúde que mais atendem aos anseios da população.

No entanto, nós viemos, aqui, na verdade, trazer o nosso abraço fraterno em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores, que a mim delegou essa tarefa por ser um dos seus pares, e que, hoje, muito me honra, muito me orgulha e me enche de afeto e de carinho.

Trago, então, aqui, o nosso apoio, dizendo que é um ato de justiça da Câmara de Vereadores, do Legislativo de Porto Alegre, para com um dos seus cidadãos que já era cidadão de fato e que hoje passar a gozar, através da outorga deste título, os seus direitos plenos passando a integrar, inclusive, o Conselho de Cidadãos Eméritos de Porto Alegre. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): A Mesa recebeu uma mensagem, da Associação dos Funcionários Públicos do Rio Grande do Sul,  endereçada ao Dr. Martinho que passo a ler: “Recebi gentil convite para a Sessão Solene em homenagem ao Dr. Martinho. Parabenizo-o pela louvável iniciativa de todo merecida. Compromissos assumidos anteriormente impedem-me de comparecer como seria de meu desejo. Assinado: Ricardo Ornos Guterres”.

O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra e falará em nome das Bancadas do PPB e do PFL.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Porto Alegre é uma Cidade que tem o privilégio de ter uma das melhores estruturas de Saúde do País, como fruto de dezenas de anos de trabalho, em que estiveram unidos a Igreja, a iniciativa privada e os poderes públicos, em todos os níveis.

Temos excelentes hospitais particulares e públicos, temos as melhores escolas da área da saúde, e temos, sem dúvida alguma, uma das melhores equipes de Saúde, em que se incluem médicos, enfermeiras, farmacêuticos, patologistas e tantos outros profissionais que dão sustentação e qualidade a essa atividade imprescindível à vida comunitária.

Dentre tanta gente qualificada, entretanto, é possível destacar algumas figuras que, por sua ação diferenciada, as fazem merecedoras de reconhecimento especial, pois que a mera gratidão não é suficiente para resgatar o débito que lhes tem a sociedade. É o caso do Dr. Martinho  Alexandre Reis Álvares da Silva, o mais gaúcho dos mineiros que, para satisfação nossa, aqui se radicou.

Profissional de renome, já realizou, só em Porto Alegre, mais de vinte e sete mil anestesias, ou seja, mais de mil por ano; uma média de três por dia. Números que demonstram o nível da ocupação profissional que o Dr. Martinho tem tido esse tempo todo.

Entretanto, são incontáveis as ações paralelas que realizou ou de que participou, das quais sobressaem o exercício exitoso da Presidência da AMRIGS, de 1993 a 1999, e a sua incansável e denodada campanha pela implementação do Serviço Único de Saúde, mais conhecido pela sigla SUS, nos termos previstos pela Constituição Federal, ou seja, universal, irrestrito e gratuito.

Sua marca registrada tem sido, ao longo dos anos, desde que se matriculou na Faculdade de Medicina da UFRGS em 1966, a devoção à saúde comunitária. Exemplo de seu trabalho nessa área foi sua participação no projeto que implantou, na Vila São Pedro: o Posto de Saúde mantido pela AMRIGS, totalmente aparelhado, para o atendimento da comunidade local.

Seu intenso trabalho de médico não lhe tirou, ao contrário reforçou, sua condição de cidadão preocupado com os problemas de sua terra de adoção, especialmente no campo da saúde.

Sem descuidar de seu aperfeiçoamento pessoal, no campo profissional, através da participação em cursos, seminários e outros eventos assemelhados, o Dr. Martinho tem sido sempre um batalhador entusiasmado do desenvolvimento e do aperfeiçoamento do sistema, deixando um rastro de ações que, para si próprio, são rotineiras, mas que para a comunidade porto-alegrense, entretanto, não podem passar despercebidas, e são dignas de louvor e reconhecimento.

Por tudo isso, então, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em nome da Bancada do Partido Progressista Brasileiro, que tenho a satisfação de integrar, juntamente com os ilustres Vereadores João Dib e Pedro Américo Leal, e representando, também, a Bancada do Partido da Frente Liberal, por delegação de seu Líder, o ilustre Ver. Reginaldo Pujol, desejo manifestar nossa solidariedade e inteira adesão à homenagem que hoje a Câmara Municipal de Porto Alegre presta ao Dr. Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva, concedendo-lhe o título honorífico de Cidadão de Porto Alegre como profissional e como cidadão, iniciativa louvável do preclaro Ver. Isaac Ainhorn.

Dr. Martinho, receba nosso mais caloroso abraço pelo título que agora está recebendo, mais do que merecido e inquestionavelmente justo. Seus familiares, com certeza, podem orgulhar-se de V. S.a como pessoa humana, como profissional e como cidadão.

E a Cidade de Porto Alegre, igualmente, orgulha-se de tê-lo, agora, como o seu mais novo Cidadão Honorário. Que Deus o abençoe, assim como à sua família, dando-lhe sempre a luz e a inspiração necessárias ao caminho que escolheu, de bem servir à comunidade.

Antes de encerrar, Dr. Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva, permita-me uma última observação. Um seu colega de atividades, homem religioso e de saber profundo, que não está aqui, presente porque, naturalmente, deve estar de plantão nesta hora, falando-me a seu respeito, referiu-se ao senhor com a seguinte expressão, que endosso inteiramente: “Todos nós fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, mas, no caso do Dr. Martinho, Deus foi extremamente caprichoso.” Parabéns! Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): A Mesa da Câmara recebeu uma correspondência endereçada ao Presidente da Câmara, que passo a ler: “Sr. Presidente, tendo a grata satisfação de cumprimentá-lo, dirijo-me a V. Ex.a para acusar o recebimento de convite para Sessão Solene de entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva neste dia 06 de abril. Impossibilitado de comparecer em razão de compromissos neste Parlamento, agradeço e aproveito para, na pessoa de V. Ex.a, cumprimentar o ilustre homenageado pelo título merecido. Reiterando protestos de consideração, firmo-me atenciosamente. Dep. Adilson Troca, Líder da Bancada do PSDB.”

O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra e falará em nome da Bancada do PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Sinto-me na minha casa. Sou cirurgião torácico há trinta e cinco anos. Uma vez por mês a cirurgia torácica reúne-se aqui na AMRIGS. Nós temos um protocolo e eu quase sempre passo por cima dele, mas, hoje, gostaria de saudar a Mesa, começando pela profunda admiração pessoal que eu tenho pelo jornalista Lauro Hagemann, presidindo esta Sessão como Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre e pela sua história e seu trabalho; pelo imenso carinho que eu tenho pela trajetória do Dr. Telmo Kruse, professor e amigo; pelo Dr. Hilberto Correa de Almeida, Presidente desta entidade, com quem já trabalhei no longínquo ex-AIPI, e que continua exatamente igual, com uma energia de um menino; por fim, a Mesa de todos os dias no hospital onde nós trabalhamos, o Dr. Martinho.

Hoje na Associação dos Médicos do Hospital Conceição havia um imenso cartaz em homenagem a ele e ao Dr. Paulo Delgado. Isso é, talvez, uma pequenina referência à importância desta festa, que tem o caráter da intimidade.

Escrevi algumas linhas despretensiosas. A minha esposa, a minha família é de Diamantina, Minas Gerais, e lá eu tenho o vício de, todos os anos, além de respirar aquele fantástico ar das alterosas, realimentar-me com pão de queijo mineiro. (Lê.)

“Martinho, o que significa ser adotado por uma terra?  Vir do Sul de Minas, recomeçar uma vida, deixando para trás um Estado rico e progressista e gastar seus dias em outra terra, também cheia de tradições, enfrentar uma formação, especializar-se, trabalhar um trabalho, viver intensamente, liderar médicos, ser nosso Presidente da AMRIGS, nosso norte, e no dia-a-dia do passar da vida, esgotar todas as emoções que a natureza proporcionou ao homem e aos seus circunstantes? A tua circunstância está bem pertinho, na primeira fila.

O que é esse abraço de uma Cidade? Uma Cidade é feita não somente de suas ruas, seus parques, avenidas, de transportes, do barulho dos ônibus, dos resíduos, da arte, das estátuas. E eu quero referir uma das coisas mais lindas que há em Porto Alegre que é uma estátua do Tenius, toda em ferro, está na Perimetral, bem pertinho da Câmara. São os nossos açorianos que aqui chegaram, e cada um deles, um encostado no outro, formaram um grande barco que venceu esse oceano infinito e para cá, atravessando a nossa lagoa, chegou ao nosso lago, Guaíba, e deitou-se como cidade nessas colinas lindas que tu conheces.

 Uma cidade é um povo na rua, é a graça sinuosa da sua geografia, até um certo desarranjo que confere elegância à paisagem; são por-de-sóis desiguais, criativos, cada um mais bonito que o outro, cada um mais diferente do outro, como são as caras diferentes de cada um de seus munícipes.

Uma cidade não pode girar senão em volta de seu perfil humano, do jeito de ser, da beleza de seus nomes, dos nomes de bairros – eu moro num bairro que tem um nome lindo, chama-se Chácara das Pedras, e a Ver.ª Lenora é minha vizinha -, dos nomes de rua, de alamedas, do verdor de seus arvoredos e, por que não de uma arquitetura cartesiana que, às vezes, nos impõe linhas retas ou curvas, mas vai do rococó ao surrealista, do antigo clássico ao pós-moderno.

Mas, especialmente, Porto Alegre vem acumulando, nesse seu longo andar, o gosto por personagens. Preferimos o equilíbrio dos bêbados; o urro dos estádios; lembramos o Bataclan, que era um negro divino que corria por nossas ruas e fazia propaganda; a Maria Chorona, que vendia jornais; o Charuto, que entrava de costas e furava nos estádios como se estivesse saindo; o Zé do Passaporte; o cachorro-quente do Rosário; a cachaça do Bar Ocidente; a Rua da Praia; o nosso São Pedro; o Laçador; e a Tristeza mais alegre que nós conhecemos, que é aquele bairro lá na Zona Sul; o nosso Porto; o Julinho, que é um colégio que marcou época; o Mercado; o Brique da Redenção; o panorama de Porto Alegre visto daquelas colinas fantásticas do Morro da Polícia; na verdade, o Guaíba, ainda que poluído, domina o ambiente. Meu Deus, tanta coisa é uma cidade! Na verdade, uma cidade é um mundo, um mundo vivo.

Cidade tem silhueta, na minha opinião, de mulher; cidade tem cheiro; tem rosto; tem carícia das brisas deliciosas do verão e a gelada aragem do meio do ano: o nosso minuano; tem gente bonita, a beleza sem igual de nossas aqui se tornam personagens do seu quotidiano como Martinho de todos os dias, do cafezinho e da delícia das nossas conversas matutinas.

É por isso, Martinho, que a Câmara Municipal da Cidade mudou-se para a AMRIGS, para a nossa Casa. A festa das ruas está toda ela concentrada aqui, aqui está a alegria do nosso povo. É a festa das folhas caindo, é a festa de terra, água e vento que se percebe quando mais um porto-alegrense de fato é distinguido como Cidadão, como uma comenda, ou melhor, como a melhor das encomendas.

Aquele que pelo seu serviço, pela sua personalidade vem enriquecer o inconsciente coletivo desta Cidade e, numa mescla inteligente, de bom gosto e maravilhosa, a nossa proposta é de que traga para o cardápio da nossa Churrascaria Barranco, como aperitivo, o pão de queijo.

Bem no coração da Cidade, bem no coração dos gaúchos, acertastes Martinho, talvez seja esta a tua maior conquista: a Cidade é tua, toda tua e em todo o seu esplendor. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): O Dr. Hilberto Correa de Almeida, Presidente da AMRIGS e anfitrião desta solenidade, está com a palavra.

 

O SR. HILBERTO CORREA DE ALMEIDA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Falar sobre o Martinho  Alexandre Reis Álvares da Silva é uma coisa que dá prazer, porque só me lembro da coisas boas.

Do fundo do coração, não tem dúvida, como teu amigo e, agora, como dirigente da AMRIGS eu posso prestar um pequeno depoimento.

Eu conheço o Martinho como profissional, tanto na sua atividade médica como na sua atividade associativa, e o conheço como pessoa, na convivência com a família e com a convivência que temos como amigos.

Martinho apareceu, recém havia terminado o treinamento de anestesia, para trabalhar no nosso serviço, e eu acho que foi um dos primeiros. Então, lembro-me bem, daquele jovem. O tempo passa rápido, e faz poucos anos.

 Aquele jovem tinha uma alegria, uma capacidade de trabalho, uma vontade de produzir e se via, nos olhos, um amigo. Era um amigo. Nós tínhamos aquelas cirurgias maiores em que ele sempre ajudava, controlava na Anestesia, e tinha aquelas horas em que a cirurgia fica mais calma e que podíamos conversar. Era, então, muito agradável.

Além dessa convivência, nós fizemos esporte, era no futebol, mas tu corrias e eu me lembro da época em que tu corrias 20 km nos sábados. Eu acho que vai voltar, aos poucos isso volta, vai ser bom para as artérias, nós precisamos que tu controles isso, também. Quarenta anos pela frente.

Então, o Martinho como Anestesista, sempre competente e estudioso, e aquela capacidade de saber se unir. Ele se uniu com um grupo de anestesistas e formou um grupo agora muito requisitado e conhecido por todos os cirurgiões e com diversos cirurgiões trabalhando para esse grupo. Isso é muito importante. Muitos do grupo estão aqui presentes e eu os cumprimento também por serem colegas.

E o Martinho como um médico associativo: desde aquela época eu já fazia parte, também, da AMRIGS, mas não com a mesma intensidade com que o Martinho  participava da AMRIGS. Foi me contando. Ele teve uma carreira dentro da AMRIGS de diversas diretorias até chegar à Presidência que exerceu em três mandatos de dois anos - agora são três - durante seis anos. Nunca houve alguém - é uma opinião de amigo, talvez suspeita, mas é sério, muita gente confirma - que tenha feito tanto pela AMRIGS em tantos anos. Eu, nesses seis anos, fui seu Diretor-Financeiro, e - o Martinho sempre vinha com aquelas suas obras e me chamava de pão-duro - a sua capacidade empreendedora fez tudo isso que já foi mencionado anteriormente pelos oradores, como o edifício da Sociedade, este auditório. Ninguém acreditava. E ficou bem, junto com o arquiteto Sérgio Matti, que sempre fez essas obras com preço muito bom, com muita competência e beleza.

 E a luta do Martinho na sua especialidade: ele foi um líder na Anestesia, muitas vezes liderando movimentos e outras vezes ajudando. E a Anestesia é uma especialidade que conseguiu, com isso, se valorizar e, com essa união o Martinho ajudou muito, com conquistas que outras especialidades não tiveram. Isso é um mérito. Acho que quem trabalha e se une pode ser invejado pela capacidade de trabalho, mas nunca pelas conquistas.

Além dessas atividades todas e dessas conquistas, o Martinho como pessoa: eu conheço a sua família, sei como ele convive, tenho inveja dele porque ele tem um netinho em casa e eu tenho que ir até Ipanema, duas a três vezes por semana, para visitar os meus netos, e sei como ele é chegado à sua família. Cumprimento toda a família, principalmente a Lia, companheira, que eu sei que sempre ajudou, e eu acho - talvez alguém não concorde comigo - que a verdadeira coragem do homem é daquele que recebe a ternura feminina. Essa é a fonte da coragem do homem; quem não a recebe, eu acho que não é a verdadeira sua coragem.

É isso Martinho. Falar sobre ti é uma coisa que me dá prazer, porque eu só me lembro dessas coisas boas. Eu te cumprimento e acho e sei que tu já eras gaúcho, pelo teu comportamento durante esses anos, por tudo o que conheces da nossa história.

 Agora, tu és oficialmente gaúcho. Isso é muito importante. Um estrangeiro que veio de Minas, venceu e entrou no coração de todos os que o conhecem. Meus cumprimentos, Martinho. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Chegamos, agora, ao momento culminante desta Sessão. É o momento da entrega do Diploma e da Medalha correspondentes ao título outorgado ao Dr. Martinho.

 

(É feita a entrega do Diploma e da Medalha correspondentes ao título outorgado ao Dr. Martinho Alexandre Reis Álvares da Silva.)

 

O Dr. Martinho Alexandre Reis Álvares  da Silva, o mais novo Cidadão de Porto Alegre, está com a palavra.

 

O SR. MARTINHO ALEXANDRE REIS  ÁLVARES DA SILVA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quando os colegas e amigos, quando o Ver. Cláudio Sebenelo falou da Cidade de Porto Alegre, de suas veias, artérias e sinuosas formas, não pude deixar de me dar conta, olhar para este auditório maravilhoso e ver, saber, sentir que, quando, no dia 28 de setembro de 1961, nós aqui chegamos seis pessoas e, hoje, o Rio Grande do Sul brinda-me com essas amizades e faz com que sejamos bem mais do que seis, sendo que o hino de guerra dizia que todas as vezes que somos mais que dois alguma coisa acontece.

Representante da Cidade de Porto Alegre; berço do meu afeto. Agora, sou gaúcho de papel passado.

O Título de Cidadão Honorário outorgado pela Câmara de Vereadores de Porto alegre, acolhendo proposição do Ver. Isaac Ainhorn, enche-me de orgulho e de satisfação.

Somos movidos por estímulos e motivações as mais diversas, e essas nos conduzem ao longo da existência. Faz bem, num mundo competitivo e profissional, ver aceito e reconhecido, pelos nossos pares na sociedade, o modesto trabalho desenvolvido como cidadão e médico. Pode parecer pretensioso, porém, nossa condição humana nos leva a necessitar desses reforços emocionais, impulsionando-nos rumo aos nossos objetivos e nos tornando menos egoístas.

O título ora recebido, advindo de uma entidade representativa do tamanho da nossa Cidade, transpõe os muros da minha profissão e organização médica, extrapola todas as minhas expectativas pessoais e me conduz à realização de uma acalentado sonho: ser porto-alegrense. Estou duplamente feliz em poder receber essa honraria nesta Casa que ajudei a construir, na presença dos colegas, irmãos, amigos e familiares.

Quero creditar essa distinção feita a minha pessoa como sendo uma homenagem e reconhecimento ao esforço solidário e à compreensão da minha esposa e filhos; aos meus colegas de equipe de Anestesia MAR; aos colegas dirigentes e funcionários da AMRIGS, cada um deles nas suas esferas de atuação, doando um pouco de si para me ajudar a cumprir essa jornada. Todos foram decisivos, contribuindo com suas críticas e sugestões, e fazendo desses longos anos de trabalho, como médico e dirigente de classe, uma experiência de vida preciosa e excitante.

Aprendi muitas coisas, principalmente a respeitar as pessoas com pensamentos diferentes dos meus e a conviver com elas amistosamente; a reconhecer a legitimidade de todas posições e doutrinas; a valorizar o contraponto das minhas verdades, às vezes transitórias, e a reconhecer o valor da amizade sincera em quem me trouxe críticas construtivas e contribuiu com sua inteligência no balizamento das minhas ações. Como médico, aprendi serem todas as pessoas criaturas especiais, transcendendo suas qualidades e virtudes humanas qualquer estereótipo ou fortuna.

Agradeço a meus pais, meus primeiros amigos, que me deram, material e afetivamente, a capacidade de aceitar esses desafios.

Educaram-me no caminho do respeito ao próximo; da ausência de preconceitos contra coisas e pessoas e a buscar eleger na vida valores permanentes de moral e fé. Ensinaram-me o significado das palavras: amor, solidariedade e justiça.

 Tenho sempre vivos em minha mente os ensinamentos do meu pai, dizendo que em toda boa formação moral compete a presença da fraternidade. O bom, a alma grande condói-se e compartilha da dor alheia. Da minha mãe guardo sempre a lição de buscar cumprir o dever sem esperar por recompensas. O sentimento do dever cumprido é o melhor prêmio. Entretanto, o presente que hoje recebo é como Porto Alegre: é demais!

Quando iniciei minha vida profissional tinha como expectativa pessoal ser um médico competente e humano, contribuindo com meu trabalho para o bem-estar da comunidade. Não tinha nenhuma recompensa como objetivo, porém não posso negar estar neste momento extremamente feliz e honrado com essa distinção.

Os indicativos de sucesso, neste mundo duro e empedernido pela insensibilidade, onde cada homem é uma ilha de egoísmo, são os bens de consumo e os objetos de ostentação mundanos. Sob essa ótica, qualquer reconhecimento esperado seria de recompensas materiais, adquirindo o cidadão, assim distinguido, bens e fortunas tangíveis. Ao cumprir suas trajetórias pela vida, essas pessoas retiram do mundo tudo aquilo que reconhecem como valores e vão dormir, tranqüilos, o longo sono dos abonados.

Hoje, estamos vivendo, aqui, um momento totalmente diferente e antípoda do egoísmo e das mesquinharias do mundo. A Câmara de Vereadores, provocada pelo meu padrinho Isaac, está concebendo, num ato de amor cívico, um cidadão porto-alegrense.

A Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Senhoras e Senhores, com esta honraria humana e genial, ao distinguir um de seus munícipes com tão honroso título, não o unge com sedas e adornos, mas sublime e terna, como uma mãe, o adota como filho. Filho que ela viu crescer, ajudou a criar, e hoje ela mesma diz: “Guri, eu gosto de ti.” Quem pode resistir a tamanha manifestação de carinho e não marejar os olhos com lágrimas de agradecimento e doravante falar somente com o coração?

Nasci para Porto Alegre, Sr. Presidente, no dia 28 de setembro de 1961, numa chuvosa e gelada manhã de sexta-feira, em plena primavera nos pampas! Vindos de Belém do Pará, de origem mineira, estávamos cumprindo o périplo de acompanhar nosso pai, fiscal do Imposto de Consumo, que vinha assumir na Delegacia Fiscal do Rio Grande do Sul.

Pai, mãe e dois irmãos nos deslumbrávamos com tudo de novo que a Cidade nos apresentava. Mais um tio, que hoje está aqui, porque éramos seis. Já éramos veteranos de outras mudanças, mas a excitação do novo sempre nos agradava.

Porto Alegre era conhecida em todo o Brasil como a Cidade Sorriso! O Rio Grande do Sul, fruto do meu imaginário de menino, era um sonho distante e nebuloso, repleto de homens em disparada pelos campos afora: índios cavalgando atravessados nos lombos de seus cavalos sem rédeas e arreios; com lanças em riste; as boleadeiras cruzando os ares brumosos e a “gauchinha buscando água na sanga” para o repouso merecido desse guerreiro e a chimarreada desses guerreiros. Lembro-me perfeitamente bem desses sonhos e hoje fico imaginando como o destino me avisava que um dia viria a viver aqui.

Aos 10 anos de idade, morava numa maravilhosa e minúscula cidade goiana chamada Corumbaíba, nome oriundo da junção de dois grandes rios brasileiros, o Corumbá e o Paranaíba - minha primeira lição de Geografia -, e totalmente despojada de qualquer recurso moderno. Tinha, porém, uma coisa especial: campos, montanhas, rios com peixes e cachoeiras e bastante amplidão onde pudesse soltar minha pequena e inquieta alma de criança.

O desejo de liberdade e uma certa identidade com os valores do Rio Grande do Sul sempre vinham em minha mente nesses momentos. Tudo reforça em mim a idéia de que o destino conspirava, dando-me seus avisos e preparando meu espírito para essas mudanças.

Achava que ali tudo era grande e lindo, mas tinha um defeito fundamental: existiam muitas montanhas altas e perambeiras que me dificultavam largar solta e livre minha alma de menino: sem cabrestos ou rédeas, comprida como o canto de um cochincho-mestre a percorrer todo aquele chão de Deus e poder recolhê-la imaculada e calma no final do dia.

Buscando alternativas para esse vaguear de liberdade, vinha imediatamente em meus pensamentos a existência, no Brasil, de um lugar distante e frio, onde os campos não tinham fim e, portanto, quem quisesse poderia lançar sua alma de comprido, apenas cuidando para que não gelasse na imensidão daqueles pampas. Visitando por livros e mentalmente aquelas paragens distantes, descobria seus encantos, muitos deles cantados em versos pelo Conjunto Farroupilha. Naquele período, descobri e conheci o tango “Adios pampa mia”, apaixonei-me por ele, passando a ouvi-lo na vitrola várias vezes ao dia e curtindo uma saudade nostálgica de uma terra que não conhecia! Incorporei já, naquele momento, o Rio Grande do Sul em minha vida!

Nasci no mês de abril na cidade mineira de Patos de Minas, progressista e rica comuna, situada nos altiplanos de Minas Gerais, nas cabeceiras do rio Paranaíba.

Coincidentemente, em pleno abril, recebo essa honraria da minha cidade do coração. Posso dizer que me foi dada a luz duas vezes no mês de abril. O destino quis assim, e os meus pais e a Câmara de Vereadores de Porto Alegre concretizaram esses dois eventos natalícios, com um modesto intervalo, entre um e outro, de cinqüenta e seis anos.

Se hoje a Cidade de Porto Alegre acolhe-me como seu filho, quem tem de homenageá-la sou eu pelo muito recebido ao longo desses quase quarenta anos de convívio amoroso.

Desde o adolescente que aqui desembarcou, em clima de revolução legalista, em 28 de setembro de 1961: ao nascimento de um mano gaúcho, a minha formatura na Faculdade de Medicina da UFRGS; o casamento e o nascimento de quatro filhos e um neto, esta Cidade é credora de todas as realizações da minha vida de adulto. O afeto que a ela devoto transparece em todos os momentos da minha vida e em todos os lugares por onde passo representando.

Recordo-me do clima político tenso daqueles dias. O movimento legalista, pró-posse do Dr. João Goulart, eriçou todo o Estado. Quando nos deslocávamos de Belém para cá, o Rio Grande do Sul estava fechado para o resto do Brasil. Caminhões na pista do aeroporto, portos fechados, a gauchada em guerra. “Comitês da Democracia”, em reportagens do Diário de Notícias de 28 de setembro de 1961, que eu tive a oportunidade de rever, chegaram a mobilizar duzentos mil gaúchos na defesa da legalidade.

O Governo do Estado concede o título de Gaúcho Honorário ao Governador Mauro Borges de Goiás, aliado de primeira hora. Guardo até hoje a carta à Nação do Presidente do Congresso Nacional, Senador Auro Moura de Andrade. Em determinado trecho de 28 de setembro de 1961, dizia: “ estão salvas as liberdades públicas, está mantida a ordem, está respeitada a Constituição. O Brasil acaba de emergir de uma terrível crise...” – e assim ele vai, não previu 1964. O prédio da Reitoria da UFRGS é cedido pelo seu Reitor, Eliseu Paglioli, como sede do governo democrático a ser instituído no País. Fatos e mais fatos turbilhonavam naqueles dias. Porto Alegre, com toda essa agitação, não perdia seu jeito de província, reunindo-se, no Largo dos Medeiros, os reformadores do mundo e, no Café Central, poetas, boêmios e outros que-tais da Cidade.

Minha alma fervia de orgulho juvenil, de vir morar num lugar onde as pessoas eram vertebradas e não andavam olhando para o chão. Sentia-me já em casa, pois, confesso, embora trazendo na bagagem sonhos e expectativas de vida nova, também trazia em minhas veias o sangue de homens inconformados, que um dia levantaram, nas alterosas de Minas Gerais, seu brado contra o jugo dos impostores e dos prepotentes.

Porém, nem tudo era angústia e sofrimento! Quintana poetava a Cidade; a confeitaria do Cacique era um colírio nas tardes de domingo; as madrugadas pertenciam ao pernil no Mateus, depois das noitadas no Batelão do velho Lupi; o Marabá, “se inflama quando ela dança”; e Porto Alegre era a Cidade Sorriso!

Invoco aos companheiros que participaram do meu dia-a-dia como médico anestesiologista ou dirigente da AMRIGS, para firmarem a todos, ser eu leal a esta Cidade e a este Estado. Sempre os representei com força e obstinação visando ao interesse maior da nossa gente.

Se às vezes fui mais enfático e duro na defesa das nossas prerrogativas de cidadania, foi porque não consegui a temperança dos sábios ou a mansidão dos conformados frente às graves injustiças cometidas contra nosso povo. Procurei, como dirigente de classe, vibrar na mesma freqüência do sentimento do médico gaúcho, compreender-lhe as dificuldades e anseios, ser a sua ressonância associativa.

Os interesses defendidos pela AMRIGS sempre foram os mais legítimos da nossa coletividade. Nunca transgredimos, transigimos ou subordinamos a nenhum fator comezinho a defesa da dignidade do médico, da Medicina e dos pacientes. Sempre tivemos a ética como nosso norte e a inserção do médico como um profissional liberal socialmente comprometido com a comunidade: nossa bandeira de luta.

Advogamos um sistema público de saúde competente, como uma das formas humanizadas de fazer democracia, conquistar qualidade de vida e promover a paz social. Rechaçamos qualquer adjetivação que se queira dar à Medicina – de rico, de pobre, de convênios, etc. -, ela não suporta adjetivos. Como a própria liberdade, ela é universal e tem como único compromisso o Homem e a verdade científica; prescinde, portanto, de sobrenomes!

Quando, das nossas conversas com amigos, alguém se declarava ser do interior e perguntavam-me de onde eu era, respondia de forma rápida: “sou daqui mesmo”. Poupava-me e ao interlocutor de dizer que nasci em Patos de Minas, morei dez anos em Goiás, fiz o ginásio em Cachoeiro do Itapemirim, quase dois anos em Belém do Pará e estava morando aqui desde 1961. Uma coisa, porém, incomodava-me: ao representar nosso Estado em certames nacionais, identificando-me dizia meu nome e de onde viera. Sentia-me um pouco usurpador de uma condição que não era totalmente nem verdade e nem mentira. Intimamente isso me chateava.

A publicação no Diário Oficial do Município do Ato do Sr. Prefeito sancionando a Lei que me concedeu o título de Cidadão Honorário, aprovado por esta egrégia Câmara, Sr. Presidente, revogou todos os meus óbices emocionais e vou poder, com justo ufanismo, identificar-me, em qualquer lugar onde estiver representando nossa Cidade, como: Martinho, Porto Alegre! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Nessas Sessões Solenes em que se concedem títulos honoríficos, as emoções afloram. Temos prevenido a muitos que comparecem a essas Sessões de que pode acontecer algum acidente coronário. Felizmente, hoje, tudo transcorreu em ordem. Os oradores que desfilaram em homenagem ao Dr. Martinho pronunciaram belas orações. Ele próprio, no seu discurso, revelou que foi profundamente afetado pela atmosfera amorável de Porto Alegre, e o seu discurso revelou uma coisa que nos é comum: o amor por esta Cidade.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecendo a presença de todos, damos por encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 21h.)

 

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